Translate

domingo, 27 de janeiro de 2013

Conhecendo o mundo com outros olhos!




Yann Arthus Bertrand's sobrevoou durante 5 anos os 6 continentes para mostrar as surpreendentes paisagens vistas de cima. Ele viu a Terra mudar! Mas essa estória não se resume apenas à parte plástica de suas belas imagens. Yann fez questão de descer em todos os lugares onde fotografou para conhecer de perto a cultura, o dia a dia das pessoas,  como elas lidam com o meio ambiente, o desperdício e a generosidade. Com isso ele constatou que, apesar do consumismo exacerbado ao redor do mundo, ainda há pessoas preocupadas com o rumo do nosso planeta; e que pequenos gestos são capazes de mover montanhas. Desde um pescador brasileiro, que luta pela preservação do rio, passando por uma chinesa que alimenta de graça os esquecidos da sociedade, até um agricultor afegão que se importa com a fome do mundo, são milhares de depoimentos reais sobre seus medos, sonhos e esperanças. Yann já apresentou suas exposições no Rio, em São Paulo e em todo o mundo. Mais ecologista que fotógrafo, o resultado dessas exposições tornou possível a criação da Fundação "Good Planet" e do projeto "6 bilhões de outros".  Este projeto vai de encontro aos habitantes do planeta, tenta mostrar suas realidades e, ao mesmo tempo, ajudá-los em sua luta pela preservação do planeta. Admiro pessoas que fazem do seu trabalho algo em prol de toda a humanidade. Mesmo que comece com pequenos gestos, até mesmo no lugar onde mora, vale a pena. De que adianta os "senhores do tempo", chefes de governo, militantes "virtuais" ou grandes teóricos se encontrarem uma vez por ano, como em Davos, para discutir questões mundiais? Só saem dali com mais incertezas ainda sobre o futuro. Os grandes problemas do mundo continuam sem solução, e as resoluções nunca saem do papel!!!


Bangladesh é o sexto lugar mundial em aquicultura de água doce. Cerca de 1,3 milhão de pessoas trabalham na pesca, especialmente a de subsistência. Os bagladeshianos substituem o consumo de carne vermelha, rara e cara, pelo peixe. Ainda hoje, 1,8 bilhão de trabalhadores no mundo (60% da população ativa) trabalha sem contrato nem cobertura social.

Ilhas Robeson, no arquipélago se San Blas, no Panamá. Ali vivem os indios Kuna, que conseguiram um estatuto de semi autonomia por seu território, proibindo qualquer investimento estrangeiro em sua terra. O Panamá reconhece a aspiração dos povos indígenas terem o controle de suas instituições, garantindo sua integridade física e espiritual. Isto está certificado na Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, e até hoje apenas 22 países assinaram com o Panamá, dentre eles seus dois vizinhos: Colômbia e Costa Rica.

Fardos de algodão na região de Korhogo,Costa do Marfim. O algodão começou a ser produzido na África Ocidental no início do século XX. A produção, a transformação e a confecção do algodão garantem a subsistência de quase 1 bilhão de pessoas no planeta. Em contrapartida, só a cultura do algodão emprega 1/4 dos pesticidas vendidos no mundo. Isso fez com que alguns governos incentivassem a redução de pesticidas usados, criando setores de comércio equitativo e garantindo uma melhor remuneração melhores condições de trabalho.

Mulheres carregam baldes ao país Dogon, perto de Bandiagara, Mali. Na África subsaariana, cerca de 40 bilhões de horas são gastas nessa tarefa. Para isso, elas abandonam os estudos, razão do analfabetismo atingir mais mulheres que homens. Além disso, assim seriam pessoas "bem educadas" e "aptas ao casamento". Para mim,a manutenção de certas culturas é absolutamente impensável no mundo atual.

 Língua de gelo do glaciar Taylor no Vale Beacon, uma cadeia de vales secos na Antártica. O Tratado da Antártida que entrou em vigor em 1961 designa a Antártica como "uma zona natural dedicada à paz e à ciência".

Secagem das tâmaras. no vale do Nilo. Em regiões áridas, as tâmaras se desenvolvem em oásis como este. São bem tolerantes ao sal e suportam grandes diferenças de temperatura. O Egito é o primeiro produtor mundial e também o maior consumidor, cerca de 15 kg por pessoa por ano! Com as tâmaras se produz suco, xarope, farinha, massa, açúcar, vinagre, álcool, doces............além de servirem para alimentar dromedários, cavalos e burros.

Vilarejo Koh Pannyi, na Baía de Phang Nga - Tailândia. Esta baía é formada pelo degelo ocorrido há mais de 18 mil anos. O vilarejo foi construído há dois séculos por pescadores muçulmanos de origem malásia. As áridas montanhas calcárias submergiram das águas, deixando de fora somente os cumes. A população tradicional vive da pesca e do turismo.

Lagoa Azul, na Islândia. É uma região vulcânica, com aqueles nome complicadíssimos, Reykjanes, perto de Grindavik, na central geotérmica de Svartsengi. Este lago artificial é alimentado pelo excesso de água retirada da geotérmica. A água é captada a 2.000 m abaixo da Terra e aquecida a 240ºC pela fusão do magma. Quando chega à superfície, atinge 70ºC e serve para aquecer as cidades vizinhas. Ricas em sais minerais, as águas quentes da Lagoa Azul (a 40ºC) parecem ter propriedades curativas para doenças de pele. A geotérmica é uma fonte de energia renovável cada vez mais explorada, com pouco custo e limpa.

Final de uma tempestade sobre a floresta Amazônica, próximo a Tefé. A floresta cobre 64% da superfície do Brasil. Rica em biodiversidade, estima-se que mais de 10 milhões de espécies ainda não foram sequer descobertas. Esta pesquisa interessa principalmente à indústria farmacêutica, pois muitos dos medicamentos contém substâncias extraídas de plantas, usadas como ingredientes ativos.
 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Titicaca nos Andes

Alma de aventureira? Talvez tenha que ter um pouco para conhecer o lago sagrado dos Incas: Titicaca. Mas o essencial mesmo é ter a mente aberta e o coração tranquilo para navegar um dia inteiro nas águas azul-safira deste lago rodeado de histórias. Fui em novembro, que não é uma época recomendável, por ser um período de chuvas. Mas acho que o Deus Sol  "Viracocha" estava do nosso lado e fez todos os dias lindos e ensolarados! Aliás, a quase 4000 m de altitude é preciso um cuidado redobrado com o sol, muito protetor e óculos escuros. Este é o lago navegável mais alto do mundo. Situado na Cordilheira dos Andes, que separa a Bolívia do Peru, é alimentado pelo degelo de suas montanhas nevadas e pela água das chuvas. O lago tem inúmeras ilhas, sendo 40 delas flutuantes, feitas de "totora", uma espécie de junco local. Confesso que sou inquietamente curiosa e não consigo dormir se não desvendar algo que me fascina. Isso me fez dar algumas fugidas de vez em quando para conversar, no meu espanhol rudimentar, com os descendentes dos Incas e suas diversas ramificações, como os Quechua, Aymara e Kallawayas. Só assim consigo ir muito além dos folhetins turísticos e conhecer pequenos detalhes da cultura desse povo interessantíssimo, entrar em suas moradias, folhear livros históricos, tomar chá e ouvir suas estórias de vida fascinantes. Saio dali revigorada, e a noite sonho com tudo isso, junto e misturado, uma loucura!
Algumas moradias típicas "Urus Chipayas" dos antigos habitantes do Titicaca. Ali dentro um deles me explicou que elas eram feitas de barro e totora. Então perguntei o porquê da forma arredondada, como nos iglus. Como a região altiplana é extremamente fria no inverno, a forma redonda faz com que o vento dê a volta na casa toda e não ache nenhum canto reto por onda possa penetrar. Lá dentro permanece quente e eles conseguem sobreviver ao frio intenso. Viu? Isso não está escrito!
Demetrio Limanchi, este típico descendente Inca, foi com quem mais conversei e conheci estórias incríveis! Nos anos 70 um navegador norueguês - Thor Heyerdhal - esteve em terras andinas e, junto ao irmãos Limanchi, construiu um barco de totora (como este aí da foto) de 12 m de comprimento, batizado de RA 2. Com este barco eles atravessaram o Atlântico entre Marrocos, no norte da Africa, e Barbados, no Caribe, em 57 dias. Demetrio Limanchi estava na expedição e é o único ainda vivo hoje. A travessia foi um sucesso na época e saiu em várias revistas internacionais de renome. Inclusive o barco de totora com toda a tripulação foi capa da National Geographic de 1970, cujas folhas já amareladas Demetrio fez questão de me mostrar todo orgulhoso. Com esta viagem, Thor Heyerdhal queria provar sua teoria de que os povos andinos, os fenícios, os polinésios e os egípcios travaram contato usando esses barcos para cruzar oceanos. Pois nessas regiões foram encontrados vestígios de embarcações bem parecidas de junco e papiro. Bom, talvez ele não tenha conseguido provar sua teoria, com datas cronológicas tão diferentes dessas civilizações....... mas isso não importa. Esta viagem foi de grande importância para os irmãos Limanchi mostrarem sua cultura ao resto do mundo,  e que eu  pude conhecer de perto!  
                                                                                                                            

Aqui uma lhama pronta para retirarem sua lã, que mais tarde vai se transformar em lindas tapeçarias. Aliás, esse tipo de artesanato é muito comum na Bolívia, e muito rico em detalhes contando as histórias do povo andino e seus deuses Incas. 







Este filhotinho de lhama estava comendo bem perto do barco e não resisti em chegar bem perto para tirar esta foto. Tomei o devido cuidado para ele não cuspir em mim, já que isso é bem comum em lhamas quando algum humano chega perto demais. Seu sistema de defesa funciona muito bem. E dizem que se uma lhama cospe em você, é melhor jogar a roupa fora, pois não dá nem para lavar.....eca!!!!   





 

Barcos de pescadores que pegam trutas no lago Titicaca. Uma truta tão vermelha, que mais parece um salmão! Este peixe foi introduzido no lago há muitos anos e se adaptou tão bem, que hoje é o principal prato da região. Ah, e não posso me esquecer das batatas, presentes em todas as refeições andinas. Comi todos os dias!  



De barco chegamos até a pequena cidade de Copacabana. No dialeto antigo Aymara, "Kota Kahuana" significa 'vista do lago'. Na parte alta da cidade fica o majestoso Santuário de Nossa Senhora de Copacabana, venerada por todos. O salvamento de um naufrágio em 1746 foi atribuído à santa, daí o nome da cidade. Dizem que os espanhóis levaram uma réplica da imagem da santa ao Rio de Janeiro no século XIX. Ali a colocaram em uma igreja, onde hoje é o famoso bairro de Copacabana com sua belíssima praia.
  
 Não podíamos deixar de experimentar as tão famosas Pasankalas em Copacabana. É um tipo de pipoca doce e macia, de todas as cores e tamanhos.  Parece com a que temos no Brasil, uma delícia!
O Santuário de Nossa Senhora de Copacabana foi construído em 1550 e recebe viajantes do mundo inteiro. Sua arquitetura monumental tem detalhes que lembram os mouros.
A virgem de Copacabana tem a pele morena, como das civilizações incas, e sua imagem foi toda talhada em madeira por um típico descendente da linhagem real Inca. Em frente à capela principal tem um amplo pátio para cerimônias ao ar livre, que já eram feitas pelos indígenas há muitos anos.
Os ônibus super coloridos levam turistas até o santuário de Copacabana. Não cheguei a pegar um desses, pois fiz o trajeto do lago até o santuário a pé. Mesmo porque, tem várias barracas de rico artesanato andino por todo o caminho. Vale a pena andar bem devagar!

                                                             



Uma simpática descendente Aymara nos acompanhou e explicou para que serve cada um desses  amuletos da sorte vendidos na entrada do portal de Copacabana.                                            








Do porto de Copacabana saem vários barcos diariamente para as ilhas sagradas dos Incas, mais de 40 em todo o lago! Daqui seguimos para a Ilha do Sol.






O povo andino costuma navegar em seus barcos de totora de uma ilha a outra. Particularmente, fiquei apaixonada por esses barcos tão diferentes, resistentes e tão úteis desde as antigas civilizações incas. Até trouxe uma miniatura deles, também de totora, para me lembrar sempre!
Assim que desembarcamos na Ilha do Sol, podemos ver uma fonte da eterna juventude protegida pelos filhos do Deus Sol. A mitologia inca diz que "Viracocha", o Deus Sol, enviou à  Terra seus dois filhos - Manco Kapac e Mama Ojillo para fundar o império Inca. Então, eles desceram na "Isla del Sol" e ali começaram sua civilização.
    A Ilha do Sol, com suas escarpas íngremes, e ao fundo a ilha da Tartaruga. Almoçamos no restaurante arqueológico Kollo, que oferece uma vista deslumbrante do lago e a cordilheira real dos Andes.
As cholas, usando suas típicas vestimentas indígenas, moram na Ilha do Sol, onde tecem lindos artesanatos com lã de lhama e alpaca. Você, certamente, não vai resistir!
          


Crianças bolivianas se divertem na ilha brincando com pedrinhas! Com seu rostinho redondo e olhar cativante, elas estão por toda parte.   






          


Outra ilha considerada sagrada pelo povo Inca é a "Isla de la Luna". A subida até os blocos de pedra cansa um pouco, mas vale a pena conhecer mais uma parte desta civilização.





A ruína de INAK UYU fica na ilha da Lua e era o antigo templo das virgens do Sol, onde ficavam as virgens mais belas dos Incas, que foram escolhidas para serem suas esposas. O termo "Virgens do Sol" significava manter o fogo eterno em devoção ao deus Sol "Viracocha".
Voltando ao barco para seguir nossa viagem pelas águas do Titicaca. Segundo a tradição Inca, todos que navegam suas águas sagradas devem ser batizados. Tive que repetir as três palavras mágicas que formam a frase incaica: AMA SUA, AMA LLULLA, AMA QUELLA, que siginifica respectivamente: não roubar, não ser preguiçoso, não ser mentiroso. Depois desse batismo "sui generis", recebi um certificado dizendo que a partir de agora eu estou protegida porque naveguei nas as águas sagradas dos Incas. Ulalá!!!!!!!!!!!!!
A imponente Cordilheira Real vista do lago. Para os Incas é também uma montanha sagrada que merece respeito de quem tenta decobri-la mais de perto, como em uma escalada.
Um barco de totora de duas cabeças me chamou a atenção na volta. Este tem muito mais que 12 metros e parece forte o suficiente para atravessar um oceano!
De volta ao ponto de partida, Demetrio Limanchi vem nos receber em seu pequeno barco. depois de um dia inteiro navegando pelas águas sagradas do lago Titicaca, me sinto revigorada e transformada. Algo ali faz a gente pensar nas voltas que a vida dá e qual o sentido de tudo isso afinal. Acreditem ou não, agora eu me sinto realmente protegida. Mas, por via das dúvidas, vou dar uma forcinha ao Deus Sol e fazer a minha parte..........só por garantia.......... Hasta luego Titicaca!!!