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sábado, 12 de janeiro de 2013

Titicaca nos Andes

Alma de aventureira? Talvez tenha que ter um pouco para conhecer o lago sagrado dos Incas: Titicaca. Mas o essencial mesmo é ter a mente aberta e o coração tranquilo para navegar um dia inteiro nas águas azul-safira deste lago rodeado de histórias. Fui em novembro, que não é uma época recomendável, por ser um período de chuvas. Mas acho que o Deus Sol  "Viracocha" estava do nosso lado e fez todos os dias lindos e ensolarados! Aliás, a quase 4000 m de altitude é preciso um cuidado redobrado com o sol, muito protetor e óculos escuros. Este é o lago navegável mais alto do mundo. Situado na Cordilheira dos Andes, que separa a Bolívia do Peru, é alimentado pelo degelo de suas montanhas nevadas e pela água das chuvas. O lago tem inúmeras ilhas, sendo 40 delas flutuantes, feitas de "totora", uma espécie de junco local. Confesso que sou inquietamente curiosa e não consigo dormir se não desvendar algo que me fascina. Isso me fez dar algumas fugidas de vez em quando para conversar, no meu espanhol rudimentar, com os descendentes dos Incas e suas diversas ramificações, como os Quechua, Aymara e Kallawayas. Só assim consigo ir muito além dos folhetins turísticos e conhecer pequenos detalhes da cultura desse povo interessantíssimo, entrar em suas moradias, folhear livros históricos, tomar chá e ouvir suas estórias de vida fascinantes. Saio dali revigorada, e a noite sonho com tudo isso, junto e misturado, uma loucura!
Algumas moradias típicas "Urus Chipayas" dos antigos habitantes do Titicaca. Ali dentro um deles me explicou que elas eram feitas de barro e totora. Então perguntei o porquê da forma arredondada, como nos iglus. Como a região altiplana é extremamente fria no inverno, a forma redonda faz com que o vento dê a volta na casa toda e não ache nenhum canto reto por onda possa penetrar. Lá dentro permanece quente e eles conseguem sobreviver ao frio intenso. Viu? Isso não está escrito!
Demetrio Limanchi, este típico descendente Inca, foi com quem mais conversei e conheci estórias incríveis! Nos anos 70 um navegador norueguês - Thor Heyerdhal - esteve em terras andinas e, junto ao irmãos Limanchi, construiu um barco de totora (como este aí da foto) de 12 m de comprimento, batizado de RA 2. Com este barco eles atravessaram o Atlântico entre Marrocos, no norte da Africa, e Barbados, no Caribe, em 57 dias. Demetrio Limanchi estava na expedição e é o único ainda vivo hoje. A travessia foi um sucesso na época e saiu em várias revistas internacionais de renome. Inclusive o barco de totora com toda a tripulação foi capa da National Geographic de 1970, cujas folhas já amareladas Demetrio fez questão de me mostrar todo orgulhoso. Com esta viagem, Thor Heyerdhal queria provar sua teoria de que os povos andinos, os fenícios, os polinésios e os egípcios travaram contato usando esses barcos para cruzar oceanos. Pois nessas regiões foram encontrados vestígios de embarcações bem parecidas de junco e papiro. Bom, talvez ele não tenha conseguido provar sua teoria, com datas cronológicas tão diferentes dessas civilizações....... mas isso não importa. Esta viagem foi de grande importância para os irmãos Limanchi mostrarem sua cultura ao resto do mundo,  e que eu  pude conhecer de perto!  
                                                                                                                            

Aqui uma lhama pronta para retirarem sua lã, que mais tarde vai se transformar em lindas tapeçarias. Aliás, esse tipo de artesanato é muito comum na Bolívia, e muito rico em detalhes contando as histórias do povo andino e seus deuses Incas. 







Este filhotinho de lhama estava comendo bem perto do barco e não resisti em chegar bem perto para tirar esta foto. Tomei o devido cuidado para ele não cuspir em mim, já que isso é bem comum em lhamas quando algum humano chega perto demais. Seu sistema de defesa funciona muito bem. E dizem que se uma lhama cospe em você, é melhor jogar a roupa fora, pois não dá nem para lavar.....eca!!!!   





 

Barcos de pescadores que pegam trutas no lago Titicaca. Uma truta tão vermelha, que mais parece um salmão! Este peixe foi introduzido no lago há muitos anos e se adaptou tão bem, que hoje é o principal prato da região. Ah, e não posso me esquecer das batatas, presentes em todas as refeições andinas. Comi todos os dias!  



De barco chegamos até a pequena cidade de Copacabana. No dialeto antigo Aymara, "Kota Kahuana" significa 'vista do lago'. Na parte alta da cidade fica o majestoso Santuário de Nossa Senhora de Copacabana, venerada por todos. O salvamento de um naufrágio em 1746 foi atribuído à santa, daí o nome da cidade. Dizem que os espanhóis levaram uma réplica da imagem da santa ao Rio de Janeiro no século XIX. Ali a colocaram em uma igreja, onde hoje é o famoso bairro de Copacabana com sua belíssima praia.
  
 Não podíamos deixar de experimentar as tão famosas Pasankalas em Copacabana. É um tipo de pipoca doce e macia, de todas as cores e tamanhos.  Parece com a que temos no Brasil, uma delícia!
O Santuário de Nossa Senhora de Copacabana foi construído em 1550 e recebe viajantes do mundo inteiro. Sua arquitetura monumental tem detalhes que lembram os mouros.
A virgem de Copacabana tem a pele morena, como das civilizações incas, e sua imagem foi toda talhada em madeira por um típico descendente da linhagem real Inca. Em frente à capela principal tem um amplo pátio para cerimônias ao ar livre, que já eram feitas pelos indígenas há muitos anos.
Os ônibus super coloridos levam turistas até o santuário de Copacabana. Não cheguei a pegar um desses, pois fiz o trajeto do lago até o santuário a pé. Mesmo porque, tem várias barracas de rico artesanato andino por todo o caminho. Vale a pena andar bem devagar!

                                                             



Uma simpática descendente Aymara nos acompanhou e explicou para que serve cada um desses  amuletos da sorte vendidos na entrada do portal de Copacabana.                                            








Do porto de Copacabana saem vários barcos diariamente para as ilhas sagradas dos Incas, mais de 40 em todo o lago! Daqui seguimos para a Ilha do Sol.






O povo andino costuma navegar em seus barcos de totora de uma ilha a outra. Particularmente, fiquei apaixonada por esses barcos tão diferentes, resistentes e tão úteis desde as antigas civilizações incas. Até trouxe uma miniatura deles, também de totora, para me lembrar sempre!
Assim que desembarcamos na Ilha do Sol, podemos ver uma fonte da eterna juventude protegida pelos filhos do Deus Sol. A mitologia inca diz que "Viracocha", o Deus Sol, enviou à  Terra seus dois filhos - Manco Kapac e Mama Ojillo para fundar o império Inca. Então, eles desceram na "Isla del Sol" e ali começaram sua civilização.
    A Ilha do Sol, com suas escarpas íngremes, e ao fundo a ilha da Tartaruga. Almoçamos no restaurante arqueológico Kollo, que oferece uma vista deslumbrante do lago e a cordilheira real dos Andes.
As cholas, usando suas típicas vestimentas indígenas, moram na Ilha do Sol, onde tecem lindos artesanatos com lã de lhama e alpaca. Você, certamente, não vai resistir!
          


Crianças bolivianas se divertem na ilha brincando com pedrinhas! Com seu rostinho redondo e olhar cativante, elas estão por toda parte.   






          


Outra ilha considerada sagrada pelo povo Inca é a "Isla de la Luna". A subida até os blocos de pedra cansa um pouco, mas vale a pena conhecer mais uma parte desta civilização.





A ruína de INAK UYU fica na ilha da Lua e era o antigo templo das virgens do Sol, onde ficavam as virgens mais belas dos Incas, que foram escolhidas para serem suas esposas. O termo "Virgens do Sol" significava manter o fogo eterno em devoção ao deus Sol "Viracocha".
Voltando ao barco para seguir nossa viagem pelas águas do Titicaca. Segundo a tradição Inca, todos que navegam suas águas sagradas devem ser batizados. Tive que repetir as três palavras mágicas que formam a frase incaica: AMA SUA, AMA LLULLA, AMA QUELLA, que siginifica respectivamente: não roubar, não ser preguiçoso, não ser mentiroso. Depois desse batismo "sui generis", recebi um certificado dizendo que a partir de agora eu estou protegida porque naveguei nas as águas sagradas dos Incas. Ulalá!!!!!!!!!!!!!
A imponente Cordilheira Real vista do lago. Para os Incas é também uma montanha sagrada que merece respeito de quem tenta decobri-la mais de perto, como em uma escalada.
Um barco de totora de duas cabeças me chamou a atenção na volta. Este tem muito mais que 12 metros e parece forte o suficiente para atravessar um oceano!
De volta ao ponto de partida, Demetrio Limanchi vem nos receber em seu pequeno barco. depois de um dia inteiro navegando pelas águas sagradas do lago Titicaca, me sinto revigorada e transformada. Algo ali faz a gente pensar nas voltas que a vida dá e qual o sentido de tudo isso afinal. Acreditem ou não, agora eu me sinto realmente protegida. Mas, por via das dúvidas, vou dar uma forcinha ao Deus Sol e fazer a minha parte..........só por garantia.......... Hasta luego Titicaca!!!

31 comentários:

  1. Bia,

    Que perfeito. Eu queria muito ter ido ao Titicaca quando fui ao Peru, mas não deu... Pena! Só consegui ver pela janela do avião e ainda assim fiquei super emocionada.
    Nada como interagir com a cultura local. A viagem ganha outro sabor. A compreensão é outra. Lindo post.
    Beijos
    Claudia

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    1. Oi Claudia
      Você bem sabe o que é interagir com outras culturas! Suas viagens me encantam e suas fotos......não tem comparação!
      Bj

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  2. Eu sou a pessoa mais chata para viagem, nada me agrada muito.
    Mas este lugar é de outro mundo. Quero conhecer.

    Parabéns
    www.saldanhafotos.com

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    1. Oi Bruno
      Tem épocas que os lugares ficam meio chatos mesmo..... Eu já sou o contrário, geralmente TUDO me agrada! Se não, eu dou um jeito de achar algo interessante em algum lugar, e acabo aproveitando cada minuto.
      Grande abraço!

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  3. Hi Bia, What an interesting post... Because you are curious, you have had so many educational and interesting experiences... I have read about the Incas and about Cocacabana.. Being on that lake had to have been so special. Interesting to note that the huts were like Igloos--and built round to protect those inside from the winds...

    Beautiful photos --and such wonderful information. So glad you made that trip and had that experience. Thanks so much.

    Hugs,
    Betsy

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    1. Hi Betsy!
      In fact I have this curiosity within me. Thanks to that I could meet so many different places until today! The Incas' history is so interesting that I could stay there until today hearing about!It was a pleasant surprise to me....
      Hugs

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  4. Hi Bia, you given nice pictures with description. It make me feel like i traveled along with you in all these beautiful places. I liked all these colorful pictures and i love those traditional colorful popcorns yumm

    Happy blogging !

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    1. Hello Kiran
      Thanks for traveling with me and my pictures in Titicaca! Come along anytime, you're my guest.
      A big hug

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  5. Beautiful post and pictures! Looks like a dreamplace and so warm. Wish I was there!:-)

    Hope you have a good time Bia
    Happy new year and hugs from Tania

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    1. Tania
      Surely this lake is very warm and calm. Sometimes I even seemed to be in a dream....
      Have a nice week!!!

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  6. What a beautiful lake full of an interesting history and tradition! It's quite understandable why this lake has been considered to be sacred. I learned a lot from your experience. Thank you for sharing your wonderful trip with us.
    cosmos

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    1. Hi Cosmos!
      This lake is something special!
      It's clear that tourism explores the historical side of the Inca civilization. But still, it is an unique opportunity to meet such a beautiful story of struggle of a people!
      Thanks for coming

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  7. não sei se o barco de totora dá a volta aos oceanos,


    mas eu dou!

    com as tuas viagens, Bia


    beijinhos

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    1. Tampouco eu dou a volta ao mundo Manuela.....

      Mas gostaria, sim, de navegar oceanos.....

      Beijos

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  8. Bia do céu, que viagem fantástica!
    Parecem cenas de um filme, estes barcos que coisas lindas, amei, amei!
    Acho que uma viagem assim é um mergulho tão intenso em outra civilização e tempo que vai demorar um pouco para você esquecer.
    Vou mostrar pro maridex suas fotos, estão muito bacanas.
    Beleza de viagem heim!
    beijinhos cariocas



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    1. Ei Beth!
      Você tem toda razão, jamais irei esquecer um lugar tão especial como este! É uma pena que a civilização Inca tenha se perdido no tempo. Mas sua história tão rica e forte perpetuou por séculos até hoje, e seus descendentes estão dispostos a não deixar cair no esquecimento. Encantador!!!
      Beijos também cariocas!

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  9. Que lugar fantástico, adoro esse colorido.
    Aqui está uma viagem de sonho.

    Beijos

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    1. Oi Cris
      Na Bolívia é tudo muito colorido, muita vida, muita história........a única coisa que tem pouco por lá é o ar! Nessas altitudes até o pulmão tem sede!!!
      Beijos

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  10. .

    .

    . bia . é um prazer viajar consigo . :) . ler cada frase sua . saborear cada vivência sua . redescobrir cada descoberta sua . observar cada fotografia sua . onde a cor assume a mestria e a exaltação total .

    .

    . revigorante é eu vir aqui . :) . por muitos e por muito bons motivos .

    .

    . muito obrigado . de coração .

    .

    . um beijo meu . sempre amigo .

    .

    .

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    1. É sempre um prazer tê-lo aqui Paulo!
      Quando as pessoas conseguem viajar através de minhas imagens e escrita, me sinto recompensada e feliz....ao menos, consegui passar um pouco da minha emoção ao passar por lugares tão incríveis!!!
      Um poeta, como você, é uma honra...... e será sempre bem vindo!
      Bj

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  11. Just fantastic pics and so exotic, nice work :)

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    1. Hello Sarppu!
      I'm glad you have liked.
      Thanks for coming in this peace of the Earth!

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  12. Oi Beatriz
    Fascinante sua viagem, fiquei maravilhada com sua narrativa, você escreve super bem, consegui me imaginar nestes locais.
    Suas fotos ficaram lindas, como sempre, em todas as suas aventuras.
    Grande beijo.

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    1. Maria Celia
      Obrigada pela gentileza!
      Se imaginar num lugar bacana e depois poder ir até ele, é algo fantástico, não!
      Beijos

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  13. Que viagem linda, Bia. paisagem e cultura. uma viagem dentro de uma viagem..
    beijos, Lilian

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    1. Ei Lilian, ah quanto tempo!
      Dependendo do ponto de vista, podem ser várias viagens dentro de uma, ou o contrário! O bom mesmo é vivenciar tudo isso ao vivo e a cores! Você vive bem isso nas paisagens lindas dos glaciares chilenos....
      beijo

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  14. Nossa Bia que ma-ra-vi-lha de fotos, informações e história. A-do-rei! Fazia tempo que não embarcava por aqui e viajava com vc.
    Beijuuss

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    1. Olá Regina!
      Volte mais vezes para viajar, ou simplesmente "embarcar" neste mundo.....
      Bjks

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  15. Titicaca é magico de verdade! Amamos a tua crónica de viagem!
    Beijinhos nossos

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    1. É mágico mesmo Vagamundos..... digno de muitas estórias e lendas.....
      Beijinhos aos dois!

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  16. Welcome Beatriz to my blog and many thanks for so kind comment!
    Excited from your trip to Lake Titicaca!
    Wonderful places oritzinal people!
    And tells so vividly, I thought that I was there!
    A thank you for the wonderful photos with you traveled so far ....
    I send you my friendship

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