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domingo, 23 de agosto de 2015

Que chuva, hein!


Se existir neste planeta um lugar muito úmido mesmo, é lá que eu gostaria de estar agora... 
Em épocas tão secas, como agora no Brasil, até parece mentira, mas tem um lugar neste mundo que chove muito, muito mesmo. Mawsynram, um vilarejo no noroeste da India, na região do Himalaya, é considerado o lugar mais úmido da Terra! Lá as pessoas compram guarda-chuva como se fossem comprar pão na padaria, é um item de 1° necessidade. A maior parte dessa chuva toda cai no período das monções na India, que vai de junho a setembro. Chega a 25 metros de chuvas acumuladas num ano (20 vezes mais que em Londres, uma cidade que chove bastante)! E nem precisa comparar com o local mais seco do mundo, o deserto do Atacama - no Chile - que não consegue ver nem meia polegada de chuva em um ano! 

As florestas tropicais úmidas ficam com uma cor inacreditável e cheias de vida. Porém, as chuvas torrenciais acabam trazendo outros problemas, como alagamentos. As comunidades locais já se acostumaram a viver assim. Questionado sobre isso, um morador respondeu: "Aqui está sempre chovendo, mas temos que trabalhar, então não dá pra ficar pensando nisso". As ruas se transformam em cachoeiras e os animais saem procurando abrigo em qualquer lugar; por isso as portas têm que estar sempre fechadas. E quem disse que as pessoas reclamam? Jamais. Dizem que têm que estar preparadas para as forças da natureza, e que isso não pode atrapalhar o andamento de suas vidas.

E quando não chove? Ah, os moradores contam que a estação seca é pior que a molhada porque eles têm que encontrar água para beber e lavar roupa! Quanto a ficar debaixo d'água, isso não é problema, já estão acostumados. A falta dela é que incomoda. Inclusive as chuvas constantes atraem cada vez mais turistas, que nunca viram tanta água cair num só lugar. Esse turismo "molhado" traz uma renda extra às pessoas dali, que vivem basicamente do cultivo.


Cientistas dizem que as nuvens de chuva que se formam no verão ficam presas ao norte do Tibet, na faixa mais montanhosa do mundo, o Himalaya. As monções chegam e carregam tudo de uma vez para os vilarejos ao redor das montanhas. A região basicamente não conhece o que é calor! Tem temperaturas médias de 10°C em janeiro e no máximo 20°C em agosto, quando fica mais quente e úmido.

Neste vilarejo das montanhas, perto da fronteira com Bangladesh, ninguém reclama de tanta chuva!


Os moradores de Mawsynram desenvolveram um método para lidar com o clima molhado - o Knup é feito com material local,  tem o formato de casco de tartaruga, o que não os impede de trabalhar na lavoura.




E eles ainda cultivam pontes! Ninguém duvida que a natureza é algo incrível, e quando o homem resolve usá-la de forma sustentável então... Os moradores da região aprenderam a enfrentar as impiedosas enchentes interagindo com a mãe natureza. Como? Cultivando pontes naturais. É uma tradição que passa de geração a geração. As raízes da figueira ficus crescem entrelaçadas  e são bem resistentes. Como suas raízes são elásticas, eles "só" têm que aprender a direcioná-las da forma certa para que virem uma ponte segura, capaz de suportar até 50 pessoas de uma vez! O processo de cultivo leva de 10 a 15 anos e pode durar até 500 anos, segundo os moradores mais antigos. 

Acho isso impressionante, como a própria natureza ensina o homem a viver, e sem precisar destruí-la! As adversidades do tempo muitas vezes fazem parte da vida das pessoas de forma natural, é só aprender a contornar as coisas mais difíceis e tentar viver com isso. Afinal a vida não é uma poção mágica e as coisas não funcionam só porque a gente quer. Este é o ponto, e um ponto é apenas o começo...

domingo, 16 de agosto de 2015

Hasta pronto Bolívia!

O desejo de viajar e respirar outros ares sempre esteve grudado em mim!  Todavia, nem o tempo nem a grana me deixam praticar tanto assim.... Estar em ambientes diferentes, fugindo do lugar comum, é o que me atrai. Frequentemente me parece que estaria melhor onde não estou. E quando estou lá, já começo a pensar em outro lugar, outros ares. É um exercício diário do qual não me canso, e mantém meus neurônios em forma! Se um lugar está cheio de turistas então, corro na direção oposta. Não sei o que há comigo... Nada contra. Mas é que os lugares pouco procurados sempre me trazem ótimas surpresas. Já faz um tempo que fui à Bolívia por conta de um projeto de pesquisa. Mas poderia também ter escolhido ficar no Brasil, que nada mudaria. Acontece que só de ouvir falar do altiplano boliviano, aquelas imagens dos Andes, da cultura Inca e da capital La Paz começaram a povoar minha mente. Além disso, estaria num projeto incrível sobre mudanças climáticas. Alguma dúvida? E lá estava eu, desembarcando no aeroporto de El Alto (a 4000 m de altitude), um dos mais altos do mundo. A primeira impressão que tive foi de caos total!  Tivemos que pegar uma van de El Alto até La Paz, com um tráfego absolutamente enlouquecido, onde os sinais de trânsito são meros enfeites nas ruas, que mudam de cor o tempo todo, sem que ninguém olhe para eles! Uma profusão de gente atravessando na frente dos ônibus, carros que mudam de direção num piscar de olhos e quase batem uns nos outros. Haja fôlego! Ainda bem que eu não tenho problema com altitude, senão precisaria de oxigênio extra. A propósito, quase todas as vans em La Paz são equipadas com cilindro de oxigênio, caso alguém sinta o 'mal de altura'. Tem também a opção de mastigar folhas de coca (vendidas pela cidade no peso), deixa a boca um pouco anestesiada, mas a sensação de enjoo passa na hora. Tive que mastigar algumas ao pegar o ônibus até o lago Titicaca, pois as curvas sinuosas nas montanhas não dão trégua! Considerado o país mais pobre da América do Sul, não é exatamente o mais procurado pelos brasileiros. O que é uma grande bobagem, Os bolivianos são incríveis, sua cultura é riquíssima  e a cordilheira dos Andes ao redor de La Paz dá o tom surreal ao lugar.




Uma coisa que me chamou a atenção em La Paz é que não há violência ou medo, como nas grandes cidades brasileiras. Apesar de ser um país pobre, não há tantos pedintes nas ruas, não vi nem mendigo, e os assaltos a mão armada por lá são bem raros, como eles mesmos dizem.








Grande parte da população boliviana descende de indígenas, em suas diversas etnias. O que achei legal é que eles são autênticos. Alguns se vestem de forma bem colorida, como as "Cholas", e têm orgulho de seu povo e sua cultura andina. E isso é natural, não existe encenação para os gringos, como em outros países.



Os pequenos ônibus locais, conhecidos como Trufis, parecem com aqueles de desenho animado. Andam sempre abarrotados de gente, e o cobrador vai gritando pelas ruas com a porta aberta, dizendo os destinos por onde o ônibus vai passar, uma loucura! Nem tentei pegar um, pois em La Paz é fácil andar a pé, o que para mim é sempre a melhor opção. É um jeito de me socializar mais rapidamente com as pessoas locais e exercitar meu espanhol 'macarrônico'!!!




Os bolivianos são tão orgulhosos de seu povo que alguns muros da cidade são pintados por artistas, mostrando a luta diária e o trabalho das pessoas para manter o país e sua rica cultura.








De qualquer lugar que se olhe de La Paz, é possível ver a imponente Cordilheira dos Andes. É como uma moldura para a cidade! Esta foto tirei do quarto do hotel antes de anoitecer







A paisagem lunar do "Valle de la Luna", perto de La Paz, já diz tudo, estamos em um país que impressiona só de olhar. Subir e descer essas formações rochosas exige um certo esforço, ainda mais quando estamos a quase 4000 metros de altitude. Muitos preferiram ficar só na entrada do parque tomando água debaixo de um sol forte. Mas nada melhor que mergulhar dentro dessas rochas e se imaginar num outro planeta. Dá para tirar fotos incríveis de todos os ângulos!


Titicada, cerca de 4 horas de viagem de La Paz, é o lago navegável mais alto do mundo. Sua paisagem árida ao redor é devido ao frio do vento que vem dos Andes. Suas águas são alimentadas pelo degelo das montanhas e também das chuvas. Ali você conhece de perto a cultura dos antigos Incas e seus descendentes que vivem do lago.




Algumas lhamas, animal típico do altiplano boliviano, são criadas em casa, pois a tosa de sua lã serve para fazer lindos 'ponchos' para usar em dias frios (ou seja, todos os dias) e 'chulos' para proteger a cabeça dos ventos gelados.

Esta senhora, uma típica "Chola", que vive às margens do lago Titicaca tece lindos ponchos de lã de lhama. Só não comprei porque vivo num país tropical e dificilmente iria usá-los por aqui! Mas trouxe uma pequena manta toda colorida que me remete a este belo país toda vez que olho para ela! Só posso dizer 'Hasta Pronto' Bolívia!!!