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domingo, 13 de maio de 2018

As ruas de La Paz e o Mercado das Bruxas


O que há de tão interessante na Bolívia? Praticamente TUDO! Não é um pais rico, embora tenha grandes fontes  de gás natural. Nos áureos tempos foi saqueado pelos espanhóis, que destruíram o que restou do Império Inca. 
Produz coca, é verdade, que é a base da cocaína, mas que também faz parte da cultura local mastigar suas folhas para anestesia e mal estar. Além disso, tem paisagens deslumbrantes! Não sei bem por que, mas tenho uma atração por culturas peculiares, que fogem do óbvio. Ao chegar ao hotel, já tem uma mesinha com chá de coca esperando, 24 horas disponível. Afinal, não é qualquer um que aguenta bater perna o dia inteiro em uma cidade que fica a 3.600 m de altitude sem sentir uma tonteira (é o mal de altitude). Confesso que só precisei mesmo do tal chazinho quando peguei um ônibus para o Lago Titicaca, a 4.000m de altitude. Quando também tive que mastigar uma folha de coca para passar o enjoo na estrada. Andando pelas ruas de La Paz você não corre o risco de se entediar, pois as coisas mudam o tempo todo na sua frente. Na parte mais baixa está o centro financeiro, com seus prédios modernos, consulados, carros importados, homens em seus ternos finos e mulheres de salto alto para lá e para cá. Depois as ruas vão ficando estreitas, muito mais coloridas, pessoas mais simples, as "cholas" sentadas nas calçadas vendendo artesanatos e também folhas secas de coca (tudo no peso). Muros pintados à mão, onde os bolivianos gostam de contar sua história. Ônibus coletivos que mais parecem ter saído dos filmes da década de 60, cuspindo fumaça e cantando pneu em cada curva. As "cholas" - mulheres de ascendência indígena com suas longas tranças, saias rodadas, chapéu coco e ponchos coloridos - são um ícone da Bolívia. Em qualquer outro lugar do mundo seriam consideradas exóticas, mas aqui são mulheres comuns, trabalhadoras, de cultura indígena, sem uma educação formal, muito tímidas e que não falam a sua língua (a maioria fala Quechua e Aymara). 
Em La Paz é possível ver claramente a mistura da colonização espanhola com a cultura indígena descendente dos Incas. Isso, a meu ver, já é de uma riqueza ímpar, e motivo mais que suficiente para querer conhecer em detalhes. As ruas são uma bagunça, o carros parecem ignorar completamente os sinais de trânsito.  Por isso escolhi percorrer tudo a pé e me enfiar por ruas e praças para conhecer a cidade. Atrás de uma avenida surge a longa e estreita "Calle de las Brujas", com seu famoso Mercado das Bruxas. Bem no centro histórico de La Paz, a rua das Bruxas tem de tudo o que você imagina e tudo que nem sonhava encontrar. Remédios indígenas para todo tipo de doença, artesanatos coloridos, choupas (casacos de lã de lhama ou alpaca), sementes medicinais, amuletos da sorte (comprei um para os estudos e um para a saúde), e o mais bizarro de todos: fetos abortados de lhama, já secos e empalhados! Fui pesquisar, e de acordo com a crença boliviana, as famílias fazem oferendas à Pachamama (Mãe Terra e deusa andina) e enterram o feto de lhama no solo de suas casas para proteção à família. Porém, eles dizem que só usam fetos de lhama abortados naturalmente (o que é comum por lá), pois se for de lhama sacrificada, perde o feitiço. Mas pela quantidade de fetos mumificados que vi.... será que todos morreram naturalmente?
 
Uma coisa é certa, eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem!
Sempre digo que há algo de surreal nesta cidade, rica em cultura e pessoas interessantes, e que parece vigiada dia e noite pela imponente e bela Cordilheira dos Andes ao seu redor.....

"Tienda" na Calle de las Brujas, cheia de magias e fetos de lhama mumificados para proteção (?)

Muros pintados pelos bolivianos, orgulhosos em mostrar sua história pelas ruas de La Paz


Na Calle de Las Brujas há também muitos artesanatos feitos de lã de lhama ou alpaca (uma espécie de lhama pequena)



Igreja e convento de São Francisco, no centro histórico de La Paz


Um pouco perdida, o que ADORO, no meio da multidão no centro histórico de La Paz!!!



Sincronismo cultural no centro da cidade, uma "chola" e uma mãe com seu filho esperando o ônibus


Foi nesta tienda que a "chola" me vendeu os amuletos da sorte, já no final do Mercado das Bruxas