Esta foi realmente uma experiência incrível e difícil de esquecer...
Já passei por algumas dificuldades, mas a maioria delas nunca existiu... Até parece que Mark Twain leu meus pensamentos! Faz algum tempo, é certo. Sempre que ouço alguma notícia da tribo, minha curiosidade aflora, pois tive a oportunidade de conhecer alguns deles de perto. O caminho é tosco, o sol arrebatador. Se a maré sobe, você corre. Se a maré desce, você relaxa. Mas nunca descansa. Reclamar de quê? Por mais inusitado e selvagem que seja o ambiente, o lugar é surpreendente. O caminho a pé até a aldeia dos índios Pataxó aos pés do Monte Pascoal é longo e sinuoso, bastam alguns dias a partir de Prado, onde eu morava. Cheguei na aldeia "Barra Velha" em pleno verão. A aldeia é uma das várias existentes na Costa brasileira do Descobrimento. A tribo mantém contato com os não índios desde o século XVI, e hoje luta para não esquecer sua língua "Patxohã" e antigos rituais, como o "Awê". No passado eles eram conhecidos como os índios bravos que viviam no Monte Pascoal.
Eles eram os guardiões da floresta e da sua riqueza, como a madeira e os animais. Mas os tempos mudaram... Quando lá estive, soube que alguns índios negociavam escondido com madeireiros, e também comercializavam pequenos animais silvestres. Mas ali na aldeia conversei com alguns deles, inclusive o Pajé, e me disseram sentir falta de como seus ancestrais viviam, sem a interferência dos brancos em suas terras. Até hoje lutam para resgatar suas origens. Reclamam do IBAMA e da FUNAI, órgãos criados para defender o meio ambiente e os indígenas, com os quais já entraram em conflito algumas vezes.
Uma conquista recente para a tribo foi a decisão do Supremo Tribunal Federal, que reconheceu o direito dos Pataxó às terras da reserva Caramuru-Catarina-Paraguassu, anulando todos os títulos de propriedade até então concedidos a fazendeiros que tinham terrenos na área indígena.
Em Caraíva, antiga povoação Crememuã, e em Cumuruxatiba pude observar alguns índios trabalhando em Pousadas e restaurantes próximos às praias. Hoje em dia, no entorno do Parque Nacional do Monte Pascoal, recuperado em 1999 pelos Pataxó, existem cerca de 10 aldeias, dentre elas a de Barra Velha que visitei, considerada a aldeia-mãe.
Indiazinha Pataxó na entrada da aldeia Barra Velha, perto da praia, querendo me vender colares de semente de olho-de-gato e parerí.
Quando a maré sobe, você corre para o alto das falésias e anda por cima até ela baixar de novo em algumas horas...
O caminho é sinuoso, passando por mangues e terras alagadiças...
Por 1 real um indiozinho me ajudou a atravessar o rio Caraíva neste barco de tronco de árvore, e o mar estava logo ali!
Quando a maré sobe, o mar entra rio acima e faz uma imensa espuma
As muitas curvas que o rio faz antes de chegar ao mar
Caminhando a pé de Prado até a aldeia no Parque Nacional de Monte Pascoal, depois só mais três dias até Porto Seguro, ufa!
Os pequenos Pataxó correram para vestir as blusas quando nos viram chegando à aldeia!
Antigamente seus antepassados costumavam trocar produtos da floresta por bens produzidos pelos brancos, como facas e panos vermelhos (que vinham da realeza de Portugal). Desta vez eu só consegui trocar este meu velho chapéu de pano branco por um prato de madeira de Pau-Brasil, lindo!!!