Minha paixão pela Africa é algo que vem de muito tempo.....talvez de nossos ancestrais, sei lá. O fato é que desde muito pequena meu sonho era morar naquelas savanas. Como isso não foi possível, claro, o jeito foi me virar por aqui mesmo, mas ficar de olho naquele continente gigante de vez em quando! Outro dia vi mais um documentário na BBC fascinante sobre a já conhecida reserva de Ngorongoro, na Africa oriental...
Seria apenas mais um vulcão extinto na Africa, como tantos, se não fosse uma região tão fascinante! Ngorongoro é um vulcão especial na Tanzânia. Sua cratera é imensa, tem bordas altas (até 600 m) e profundas, sendo um verdadeiro paraíso para os animais africanos. Esses paredões conseguem reter a umidade, tornando a região bastante chuvosa. Extensas pastagens. lagos, florestas e uma grande variedade de animais explicam o apelido de "Arca de Noé". Ali a cadeia alimentar é completa e os guerreiros Masai podem caçar a vontade. Este ambiente pouco afetado pelo homem fica a 2.236 m de altitude e é a maior caldeira vulcânica desmoronada do planeta. Um ambiente assim, tão belo, certamente é uma das maravilhas do mundo. Localizado entre o Monte Kilimanjaro (pico mais alto da Africa) e o lago Vitória (um dos maiores do mundo) não é a toa que tudo aqui seja superlativo! Dizem que na região de Ngorongoro há cerca de 3000 búfalos, 7000 zebras, 8000 gnus, 400 hienas, 100 leões (os maiores do mundo), 70 elefantes e uma infinidade de pássaros e pequenos animais. É ou não é uma arca de Noé?
Outra coisa intrigante é que a cratera de Ngorongoro surgiu há 2,5 milhões de anos, quando o próprio vulcão desabou. Ele era tão alto quanto o Kilimanjaro, mas seu interior era oco e o topo era formado pelas erupções de lava. Esta lava começou a ser expelida pelos buracos formados nas paredes do vulcão, e assim o topo implodiu formando uma grande cratera. Naquela época era comum na região uma intensa atividade vulcânica, causada pela área de choque entre duas placas tectônicas (ah, meus tempos de geografia na escola...). Só que na Africa esta movimentação das placas já aconteceu há muito tempo, e por isso os vulcões por lá estão extintos (o que ainda não aconteceu em outras partes do mundo, onde as placas estão em plena atividade).
O parque recebe visitas agendadas, mas não é permitido sair dos carros, apenas observar. Apesar da distância e da proeza para se chegar a um lugar desses, engana-se quem pensa que o homem é um novato nessas terras. Ali perto há dois dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo: o Vale Olduvai e Laetoli, que ficam entre 60 e 90 km da cratera. Em Olduvai foram encontrados os fósseis mais antigos do Homo habilis (nosso parente distante), com mais de 1,8 milhão de anos. Em Laetoli ainda são preservadas pegadas de Australopitecus afarensis, que já caminhavam eretos há mais de 3,7 milhões de anos!
E hoje quem habita a região é o povo guerreiro da tribo Masai, que convive com os animais harmoniosamente, do jeito que a selva permite, é claro!
Encontrar leões assim, de barriga cheia e patas pra cima é coisa fácil por lá, pois a fartura de alimentos é constante. Como o ecossistema ali é equilibrado e a vegetação é abundante o ano inteiro, muitos animais não precisam sair da cratera. Porém, os leões apresentam altos índices de consanguinidade, já que não interagem com outros grupos.
Dentro da cratera só existem elefantes machos, pois as fêmeas têm necessidade de conviver com grandes manadas e acompanhar seus filhotes. Desta forma, ali não haveria alimento suficiente para tantos animais deste porte! Já as girafas, coitadas, são tão desengonçadas com seu longo pescoço e pernas finas, que não conseguem entrar na área da cratera, preferindo assim viver do lado de fora do vulcão. É, neste mundo não há nada perfeito...
Flamingos cor-de-rosa e uma manada de gnus convivem harmoniosamente num dos lagos da grande cratera.
Esta região da Tanzânia já foi dominada pelos alemães no século passado. Mas depois da 1° Guerra Mundial eles se retiraram e foram os ingleses que ocuparam Ngorongoro. Mas depois de algum tempo, os rifles usados pelos ingleses para caçar foram substituídos por máquinas fotográficas, que dominam o ambiente até hoje. Com o tempo, os Masai aprenderam a ganhar dinheiro vendendo objetos artísticos feitos por eles e cobrando por cada foto em que aparecem. E assim a humanidade segue em frente, vivendo, aprendendo, tropeçando e acertando!