O rio Araguaia tem muita história pra contar. Já foi palco da Guerrilha do Araguaia na década de 60, que não deu em nada, ainda bem! Já foi o 'rio das araras' (daí vem o nome no dialeto Tupi), já foi o rio dos índios. Só mesmo um rio tão longo assim, cerca de 2000 km, para marcar as divisas dos estados de Mato Grosso e Goiás, Tocantins e Mato Grosso, e Pará e Tocantins.
Depois que saí da faculdade (já faz um tempinho, he he) fui trabalhar como voluntária lá no rio Araguaia, no Projeto Tartaruga da Amazônia. Queria ver de perto o que só conhecia dos livros e documentários de TV. Fiquei fascinada pela beleza selvagem do rio e logo percebi que precisaria fazer algo para ajudar na sua preservação. Assim era fácil acordar às 5:00 da manhã e descer o rio de canoa junto aos pesquisadores para fiscalizar os ninhos de tartarugas nas praias do rio, e também a pesca ilegal de grandes peixes, como o "Pirarucu". Chegamos a apreender milhares de cascos de tartarugas que seriam contrabandeados para a China e outros países para ornamentação. Depois de fazer uma grande fogueira, queimamos tudo ali mesmo na praia. Pronto, isso inviabiliza qualquer uso para adornos e intimida futuros predadores. Em mais uma dessas vistorias encontramos toneladas de carcaças de "Pirarucu" estocadas em freezers de acampamentos no rio. Estes sim, são pescadores profissionais. Neste caso não basta simplesmente queimar tudo numa fogueira, e sim distribuir os peixes igualmente entre as famílias ribeirinhas. Em troca eles ajudam a proteger o rio de seu principal predador: o homem.
Jamais me esquecerei dos índios Karajá, que já habitavam a região do Araguaia há pelo menos mil anos, pois foi com um deles que aprendi a pescar (ou pelo menos tentei). O Anguruté me ensinou a pescar de dentro de uma canoa no meio do rio. Tudo bem que eu só pescava algumas piranhas, arraia e cascudo (um peixe que não se come por ser muito 'cascudo', óbvio!). Ao final eu devolvia todos ao rio com todo cuidado, principalmente a piranha ou ela devoraria a vara de pescar em segundos!
Bom, é claro que eu comia peixe todos os dias, mas pelo menos não eram os 'meus'!!!
Última foto do "cascudo" antes de devolvê-lo ao rio!
As margens do rio Araguaia em alguns trechos parecem intocáveis (foto: Araquém Alcântara)
Fotografei esta tartaruga retornando ao rio depois da desova
Aqui já estamos quase descendo o rio de canoa para transferir os ninhos de tartaruga a um local mais seguro.
Proteger o grande e temido jacaré-açu é um desafio aos pesquisadores. O animal é monitorado e faz parte de um senso desde 2006. Para mim, o maior desafio era ter que tomar banho no rio com todos eles à espreita na água (já que no começo não tinha chuveiro no acampamento). O jeito era levar uma lanterna a noite e direcionar o foco neles, pois ficam paralisados com a luz. Assim dava para ver seus olhinhos brilhantes na água, o que os mantinha longe o tempo necessário.
Cortaram minha cabeça na foto enquanto tentava levar um bravo filhotinho perdido de jacará-açu até a água (tanto melhor assim, rs)
Grandes acampamentos como este ainda são feitos na beira do rio Araguaia, e vem aumentando a demanda de turistas a cada ano. Acho que lugares assim não deviam ser explorados dessa maneira... (foto: S. Jackson)
Aqui um pedaço do Parque Nacional do Araguaia. A parte onde os índios vivem ainda é preservada.
O por do sol no rio Araguaia é um dos mais belos que já vi. Espero que o rio continue lá por muito tempo ainda! (foto: Silvio Quirino)
Impresionante reportaje. Mis felicitaciones. Hubo de ser algo fascinante adentrase por tan bellos parajes.
ResponderExcluirSlaudos.
Gracias Jorge
ExcluirCreo que tuve la suerte de conocer a algunos lugares salvages que he andado.
Bueno me gustaría que sigan así...
Saludo
Ei Bia
ResponderExcluirGosto muito das suas postagens, você nos mostra um Brasil ou mesmo países estrangeiros sob um olhar diferente, mais humano, mais simples, mas não menos importante.
Eu sou meio avessa a mato, acampamentos, tomar banho em rios, comer peixe, realmente não são minha praia, sou bastante urbana, mas admiro quem curte a natureza como você e luta pela preservação da mesma.
Bacana mesmo.
Um beijo.
Maria Célia, este é apenas um pedacinho do Brasil que algumas pessoas não conhecem. Talvez por não ter, como você disse, nada urbano por perto!
ExcluirEu, embora viva o dia a dia em uma cidade extremamente urbana, daria tudo para viver perto de um lugar um 'pouquinho' selvagem, ou pelo menos que lembrasse isso.... mas a vida não é do jeito que a gente quer, rs rs
Beijinho
quem me ensina a gostar dos Karajás, do boto-rosa, do cascudo e de tanto mar, é a Bia :))
ResponderExcluirbeijinhos
Pois é Manuela
ExcluirE você ensina a todos a navegar pelas suas histórias perto do mar...
Beijinho
Acho que passava uns dias sem tomar banho, hehe. Esses jacarés são intimidantes. Apesar dos sustos, deve ter sido uma experiência maravilhosa. Nunca tentei pescar, aprender pela mão de um habitante do rio é um privilégio, não?
ResponderExcluirGostei muito destas suas recordações. Obrigada pela partilha.
Beijinhos e uma linda semana
Ruthia d'O Berço do Mundo
P.S. Como lhe respondi lá n'O Berço, menos de 2% dos macaenses ainda falam português. Apenas se mantém a tradição no jornal oficial e placas toponímicas, mas já é suficiente para nos consolar a alma!
Ah, Ruthia, com aquele calorão na região mais quente do Brasil.....acho que no fim das contas você ia acabar entrando no rio sim, rs. Só não pode usar sabonete para não poluir o rio... Mas até que é bem divertido!
ResponderExcluirQuanto a Macau, pelo menos tem 2% que falam português, ufa! Desse jeito você vai ficar poliglota rapidinho!!!
Bj
Saudades dos dias que passei na Amazónia... Se pudesse, voltava já! Adorei as fotos.
ResponderExcluirOlá José
ExcluirA região do rio Araguaia faz parte da Amazônia Legal, que é uma área realmente grande aqui no Brasil! Também gostaria de voltar lá qualquer dia....
Abraços
Viver em comunhão com a natureza, fazer dela nossa irmã, ajudá-la a defender-se dos criminosos - que melhor tarefa se pode ter? Vontade de ir até à Amazónia...
ResponderExcluirJustine, é muito bom este contato com a natrureza plena, se possível...
ExcluirCuidar do ambiente natural é uma satisfação, sem dúvida. Mas esta definitivamente não é uma tarefa fácil!
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ResponderExcluir.
. um rio que é passado presente e futuro . e que res.guarda filhos da vida . que urge proteger e preservar .
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. é vital não transformar esta preciosidade do Universo num local turístico . sob pena de todas as penas .
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. fotografias belíssimas que revelam paisagens sacras .
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. um bom.domingo . e,,, . um grande beijinho meu .
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Que post lindo, Bia, nosso Brasil é tão rico, nosso mundo é tão rico, né?!
ResponderExcluirBeijo, beijoooo!
She